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segunda-feira, 9 de abril de 2018

O BENDITO AGUILHÃO


Atendendo a certas interrogações de Simão Pedro, 
no singelo agrupamento apostólico de 
Cafarnaum, Jesus explicava solícito: 

- Destina-se a Boa-Nova, sobretudo, à vitória da 
fraternidade. 
Nosso Pai espera que os povos do mundo se aproximem 
uns dos outros e que a maldade seja esquecida para 
sempre. 
Não é justo combatam as criaturas reciprocamente, 
a pretexto de exercerem domínio indébitosobre os 
patrimônios da vida, dos quais somos todos simples 
usufrutuários. 
Operemos, assim, contra a inveja que ateia o incêndio 
da cobiça, contra a vaidade que improvisa a loucura 
e contra o egoísmo que isola as almas entre si.... 
Naturalmente, a grande transformação não surgirá 
do  inesperado. 
Santifiquemos o verbo que antecipa a realização. 
No pensamento bem conduzido e na prece fervorosa, 
receberemos as energias imprescindíveis à ação que 
nos cabe desenvolver. 
A paciência no ensino garantirá êxito à sementeira, a 
esperança fiel alcançará o Reino divino, e a nossa palavra, 
aliada ao amor que auxilia, estabelecerá o império da 
infinita Bondade sobre o mundo inteiro. 
Há sombras e moléstias por toda a parte, como se a 
existência na Terra fosse uma corrente de águas viciadas. 
É imperioso reconhecer, porém, que, se regenerarmos a 
fonte, aparece adequada solução ao grande problema. 
Restaurado o espírito, em suas linhas de pureza, 
sublimam-se-lhe as manifestações. 

Em face da pausa natural que se fizera, espontânea, 
na exposição do Mestre, Pedro interferiu, perguntando: 

- Senhor, as tuas afirmativas são sempre imagens da 
verdade. Compreendo que o ensino da Boa-Nova estenderá 
a felicidade sobre toda a Terra... No entanto, não concordas 
que as enfermidades são terríveis flagelos para a criatura? 
E se curássemos todas as doenças? 
Se proporcionássemos duradouro alívio a quantos 
padecem aflições do corpo? Não acreditas que, assim instalaríamos bases mais seguras ao Reino de Deus? 

E Filipe, ajuntou algo tímido: 

- Grande realidade!... Não é fácil concentrar idéias no Alto, 
quando o sofrimento físico nos incomoda. 
É quase impossível meditar nos problemas da alma, 
se a carne permanece abatida de achaques... 

Outros companheiros se exprimiram, apoiando o plano 
de proteção integral aos sofredores. 

Jesus deixou que a serenidade reinasse de novo, e, 
louvando a piedade, comunicou aos amigos que, 
no dia imediato, a título de experiência, todos os 
enfermos seriam curados, antes da pregação. 

Com efeito, no outro dia, desde manhãzinha, o Médico 
Celeste, acolitado pelos apóstolos, impôs suas 
milagrosas mãos sobre os doentes de todos os matizes. 

No curso de algumas horas, foram libertados mais de 
cem prisioneiros da sarna, do cancro, do reumatismo, 
da paralisia, da cegueira, da obsessão... 

Os enfermos penetravam o gabinete improvisado 
ao ar livre, com manifesta expressão de abatimento, 
e voltavam jubilosos. 

Tão logo reapareciam, de olhar fulgurante, restituídos 
à alegria, à tranqüilidade e ao movimento, formulava 
Pedro o convite fraterno para o banquete da verdade e luz.

O Mestre, em breves instantes, falaria com respeito 
à beleza da Eternidade e à glória do Infinito; 
demonstraria o amor e a sabedoria do Pai e descortinaria 
horizontes divinos da renovação, desvendando segredos 
do Céu para que o povo traçasse luminoso caminho de 
elevação e aperfeiçoamento na Terra. 

Os alegres beneficiados, contudo, se afastavam céleres, 
entre frases apressadas de agradecimento e desculpa. 
Declaravam-se alguns ansiosamente esperados no 
ambiente doméstico e outros se afirmavam interessados 
em retomar certas ocupações vulgares, com urgência. 

Com a cura da última feridenta, a vasta margem do lago 
contava apenas com a presença do Senhor e dos doze 
aprendizes. 

Desagradável silêncio baixou sobre a reduzida assembléia. 
O pescador de Cafarnaum endereçou significativo olhar 
de tristeza e desapontamento ao Mestre, mas o Cristo 
falou compassivo: 

- Pedro, estuda a experiência e guarda a lição. 
Aliviemos a dor, mas não nos esqueçamos de que 
o sofrimento é criação do próprio homem, ajudando-o 
a esclarecer-se para a vida mais alta. 

E sorrindo, expressivamente, rematou: 
- A carne enfermiça é remédio salvador para o espírito 
envenenado. Se o bendito aguilhão da enfermidade 
corporal é quase impossível tanger o rebanho humano 
do lodaçal da Terra para as culminâncias do Paraíso.
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Irmão X (espírito Humberto de Campos) 
("Contos e apólogos", psicografia Chico Xavier) 

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