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quarta-feira, 19 de julho de 2017

O 13 QUE A HISTÓRIA NÃO CONTOU

Nunca tinha olhado a situação do povo negro escravizado
no 
Brasil, sob a ótica trabalhista, até ler um artigo publicado
no 
"Recanto das letras" em 25/01/2011, pelo professor
universitário 
Acúrsio Esteves, baiano, atuando em Salvador. 


É um artigo muito esclarecedor, cuja leitura recomendo a
todos 
que usam o cérebro para pensar. Obviamente, não é
leitura 
recomendada a nenhum 'coxinha', que só lê o que 
lhe reforça a ideologia destrutiva. 

"O 13 QUE A HISTÓRIA NÃO CONTOU"

"Treze de maio de 1888 passou para a história do Brasil
como 
o dia em que teria se acabado a escravidão em terras 
tupiniquins. 

Depois que a pena da princesa anunciou por decreto que não 
mais haveria jugo, a população negra a partir de então seria 
livre, não teria mais senhorio e poderia viver com dignidade 
e igualdade. 

Assim a escola me ensinou, assim eu aprendi e assim
acreditei 
durante longos anos da minha vida. É certo que
nunca entendi 
bem porque a Princesa Isabel, “A Redentora”,
decidira tomar 
tal atitude contrariando os interesses dos
que detinham o poder 
e entrando em sintonia com os
anseios da subjugada população 
negra, de alguns poetas,
intelectuais e políticos sonhadores que 
se diziam
abolicionistas. Pensava: foi uma verdadeira revolução 

sem sangue feita por uma mulher de coragem. 

O que a escola nunca me ensinou foi que à época, os
negócios 
do açúcar brasileiro, que era a principal fonte de
riqueza 
nacional e onde estava alocada aproximadamente
90% da 
mão-de-obra escrava, iam de mal a pior. O açúcar
da América 
Central era mais barato, mais próximo dos
grandes mercados 
e de melhor qualidade que o nosso.
Não dava para competir. 
Infelizmente só aprendi a
“História da Conveniência”, e 
Geografia Física onde os
aspectos políticos e econômicos 
“não eram” de nosso
interesse. 


O imenso contingente de escravos tornara-se então um
fardo 
para os senhores de engenho. Como sustentar esta
”horda” 
de homens, mulheres e crianças, mesmo sob
miseráveis 
condições, diante de tal crise econômica?
Era a pergunta que 
não se calava e que teve apenas uma
resposta: Demissão em 
massa.

Sim amigos e amigas, a demissão em massa foi a 
solução
encontrada para os trabalhadores e trabalhadoras 
forçados 
que edificaram e sustentavam  a economia nacional. 
E foi a maior, mais cruel de todos os tempos e quiçá de
todas 
as partes do mundo. 

Foi uma demissão sem direitos trabalhistas, quando milhões 
de trabalhadores saíram do único abrigo que conheceram
por 
toda a vida apenas com seus míseros pertences e a
roupa do 
corpo. 
E não tinham direito a ficar se quisessem. Só os mais aptos
ao 
trabalho ou os que possuíssem alguma especialização
foram 
mantidos como empregados, apenas pelo interesse
do seu 
senhorio capitalista. Esta demissão teve um nome
bonito: 
Lei Áurea. 

Antes dela, porém, vieram outras da mesma forma
convenientes 
aos interesses da classe dominante.
Vejamos: A primeira foi a 
Lei Eusébio de Queirós, em 1850,
que proibia o tráfico. Como a 
Inglaterra na prática já havia 
decidido interceptar e apreender os navios negreiros,
libertando os escravizados, então, foi uma 
lei inócua. 

A segunda, a Lei do Ventre Livre, 1871, serviu apenas para 
diminuir a pressão social dos abolicionistas. Ela não tinha 
aplicação prática, pois, como a criança pode ser livre com
pais 
escravos? Será que ela, a criança, teria escola,  moradia
digna 
e cidadania enquanto seus pais estavam nas senzalas?
Ela, 
que ainda seria tutelada até a idade de 21 anos pelos
senhores 
de seus pais, teria vida de cidadã ou de escrava? 

A terceira, a Lei dos Sexagenários, 1885, foi a mais perversa 
de todas, pois a expectativa de vida do cidadão livre à época 
era de 60/65 anos e a do escravo 32/40 anos. Eram raros os 
que chegavam à idade contemplada pela lei. Era muito difícil 
ter o controle da idade exata do escravo. Ainda hoje não são 
poucas as pessoas que não possuem registro de nascimento. 
Então, se o negro estivesse apto ao trabalho, forte, com boa 
saúde, era fácil dizer que ele ainda não tivesse alcançado 
a idade prevista pela lei. Porém se ele estivesse doente ou 
imprestável para o trabalho, nada mais cômodo que 
conferir-lhe os 60 anos e mandá-lo embora. 

Após a “libertação”, o imenso contingente “livre”, dentre os 
quais estavam os  fracos, doentes, velhos, crianças e outros 
“excedentes”, foi enxotado de uma hora para outra para o 
olho da rua. Não havia uma política agrária nem instrução 
pública e gratuita para os libertos, como defendia Joaquim 
Nabuco. Você já parou para refletir sobre as futuras 
condições de vida dos(as) que foram “libertados”? 

_ Onde iriam morar? 
_ Como iriam sobreviver? 
_ Iriam ser respeitados de uma hora para outra 
   como cidadãos e cidadãs? 
_ Que tipo de oportunidades a “sociedade” que
   eles 
construíram ofereceria para que esta gente
   construísse 
sua vida? 

Não é preciso ser especialista em sociologia para responder a 
estas indagações. Mas onde foi parar esta gente escorraçada 
das ruas das cidades por “vadiagem”? Que não tinha trabalho 
para sustentar a si nem a sua eventual família, nem moradia 
digna? Foi parar na periferia das cidades, morando em casas(?) 
miseráveis, sem esgoto, luz, água tratada, lazer, trabalho, 
educação, saúde, dignidade... Onde permanece, em sua grande 
maioria, até os dias atuais. Alguma semelhança com a Rocinha, 
Alagados, Pela Porco, Buraco Quente, Vigário Geral, Jardim 
Felicidade, Vila Zumbi, não é mera coincidência." 

Estão aí, límpidas e claras, as razões de todas as políticas 
afirmativas levantadas para o povo negro, que não são
nenhuma 
concessão gratuita, mas sim tentativas de
pagamento de uma 
dívida inquestionável! 

Abraço do tesco. 

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