Carlos Almeida de Jesus fez um trabalho primoroso neste seu
TCC de 2008, "Etimologia – Especulação e mau uso" e, mesmo
nas "CONSIDERAÇÕES FINAIS", nos fornece valiosos
ensinamentos. Vejamos o que ele diz:
CADÁVER E MOLEQUE
"As versões populares para a origem de cadáver e moleque,
por exemplo, ainda que sejam falsas, são muito mais
atraentes do que o traçado etimológico científico dessas
palavras. Cadáver teria saído da primeira sílaba de cada
palavra da frase latina “caro data vermibus” (carne dada
aos vermes). Porém, a verdade é que cadáver vem de
cadere – cair, tombar. E o corriqueiro vocábulo moleque
(contribuição do Quimbundo – muleke = garoto) seria
originário de uma variação de Moloque – a demoníaca
divindade mencionada no Antigo Testamento."
Vemos então aqui uma irresistível tendência para complicar
o que é simples e, ao mesmo tempo, dar a si mesmo ares de
"doutores", em frente a 'pobres ignaros que não possuem a
luz da Ciência". Estes últimos somos nós!
E não escondem boa dose de preconceito e racismo:
"Quimbundo? Coisa de negro? Não, vamos elevar o nível.
Origem bíblica fica melhor!"
E continua Carlos, com origens interessantes para algumas
expressões:
"Criamos um certo nível de esquecimento da estrutura
vocabular para que possamos conviver bem com as
palavras. Assim, ficamos inteiramente à vontade para dizer
que embarcamos em avião, em trem, em ônibus espacial
e até numa fria, sem que precisemos inventar verbos
especiais para cada um desses casos, já que embarcar veio
de barco; falamos em tragédia com alpinistas nos Andes –
bem longe dos Alpes, de anilina que não tem a cor do anil
e até de emboscadas no deserto, a milhares de quilômetros
de um bosque."
Curioso isto: Nunca me passou pela mente que 'emboscada'
tem relação com 'bosque'. E olhe que é coisa óbvia!
Mais ainda, ele fala da polissemia, diferentes significados
para uma mesma palavra, a depender do contexto onde é
empregada. Exemplifica com o termo 'cabeça', de uso geral
em nosso cotidiano:
CABEÇA
"De outro modo, temos ainda a construção do significado
das palavras por meio do contexto de comunicação: O pai
diz para os adolescentes antes de sair: “Tenham cabeça!”,
o encarregado comenta com o seu superior: “Eu sei quem
é o cabeça da greve”, no noticiário ouve-se: “Ela é uma das
cabeças do jornalismo carioca” e a criança pode perguntar:
“Por que o palito de dente não tem cabeça?”– em que cada
uma dessas sentenças teremos um sentido distinto para o
vocábulo cabeça (juízo / porta-voz / pessoa reconhecida
por sua inteligência / extremidade maior respectivamente),
distanciando, assim, o termo da sua origem (capitia, pl.
capitium - Latim vulgar) que significava capuz, parte do
manto que cobre a cabeça, e que por metonímia passou
a representar a própria cabeça."
Pois é. E, normalmente, não causa nenhuma confusão esta
multiplicidade de significados. E é assim que ficamos sabendo
(eu, que além de ignorante sou bobo) que a origem da cabeça
é um capuz! Quem diria?
Como vemos agora, e vimos em posts anteriores, a metonímia
desenvolve importante papel na origem das palavras. É um
tal de uma coisa leva à outra que ninguém dá fim. Parece que
vale pesquisar, pois deve ter assunto para um post específico.
Por fim - não é o fecho do trabalho dele, mas serve como fecho
da análise do trabalho dele - ele diz o que NÃO é a finalidade
da Etimologia:
"Etimologia não foi feita para apontar o dedo e dizer onde
e como devemos empregar as palavras só por causa do
sentido intrínseco que elas possam ter."
Se a maioria das pessoas assimilasse isso, muita desinformação
seria barrada em seu caminho. Eu, pelo menos, me esforço
para não divulgar inverdades. Nunca se sabe onde o resultado
vai cair, né?
Cosidero que essa leitura do TCC do Carlos Almeida de Jesus,
foi muito proveitosa, por isso quero dar-lhe os parabéns e dizer:
Bom trabalho, Carlos!
Abraço do tesco.
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Um comentário:
No Brasil, tesco, as palavras tem muitos significados...Até elas dão um jeitinho pra tudo rs.
^Gis la proksima!
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