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domingo, 5 de maio de 2013

O PAPAGAIO DE JORGE AMADO


Estou lendo "Um chapéu para viagem", escrito por Zélia Gattai.
Não é obra ficcional, narrando a trajetória de Zélia, desde que
travou conhecimento com Jorge Amado, seu casamento com
este, já então, renomado escritor, e os anos iniciais da união.

É um livro fascinante, pois, vão sendo narrados episódios da
política nacional, casos de família e a convivência de Zélia
com a família de Jorge, incluindo 'causos' contados por dona
Eulália e seu João, pais de Jorge.

Os casos acontecidos com Zélia, são narrados com precisão
e  bom-humor, ressaltando seus aspectos pitorescos.

Como exemplo, transcrevo essa curiosa história:


FLORO APRENDE O BÊ-A-BÁ

"Meus empregados eram analfabetos. Daí surgiu-me uma ideia.
Perguntei a Nina se não tinha vontade de aprender a ler e
escrever. Ela disse-me que sim, que desejava muito. Aos
poucos ampliei a idéia: por que não abrir um curso de
alfabetização para aqueles que desejassem estudar as
primeiras letras?


Saí com Nina visitando alguns sítios nas imediações e, em
pouco tempo, consegui arregimentar oito alunos. O grupo
era constituído por trabalhadores braçais, cinco homens e
três mulheres, além de seu Antônio, a mulher e Nina.

No começo da noite, depois da jornada de trabalho, eles
chegavam, banho tomado, cabelos penteados, roupa mudada,
para as lições. Adquiri uma lousa grande, que pendurava na
cozinha transformada em sala de aula; comprei cadernos e
lápis, borrachas etc, para os alunos.

Trabalho árduo: a cada aula precisava recomeçar tudo do
princípio, pois meus pobres alunos sentiam a maior dificuldade
em aprender; não conseguiam sequer decorar as letras do
alfabeto.

Encontravam inclusive dificuldade em segurar o lápis com suas
mãos grossas e calosas do trabalho rude. Revestia-me de toda
a paciência, tratava-os com carinho, buscava facilitar-lhes a
tarefa, inventava uma história para cada letra, mas, mesmo
assim, não progrediam.

Uma tarde, já cansada de fazê-los repetir, quatro, cinco vezes,
a mesma lição do bê-abá, recomecei do princípio. Fui falando
e ao mesmo tempo escrevendo na lousa:

— Aqui está a letra B, não é? Esta é a letra do barrigudo,
vejam: o B tem duas barrigas, deve comer muito, não? —
Todos riram. — E aqui está a letra A, uma escada aberta.

Com que se parece a letra A?

— Uma escada aberta... — responderam ao mesmo tempo.

— Muito bem. Se eu casar o B com o A, dá BA\ BAl
Vamos ver: O B com o A, o que é que dá?


Calados, os alunos me fitavam, refletiam.
De seu poleiro, assislindo à aula, Floro adiantou-se:


— Baaa! — gritou, encabulando os colegas de classe,
que riam sem jeito.

Pouco a pouco, obstinados, aqueles camponeses foram
aprendendo os rudimentos da leitura. Mas a única a assimilar
com facilidade foi Nina, que chegou a ler e a escrever
corretamente."

Ainda não completei sua leitura, ao terminá-la, pretendo pô-lo
em sorteio imediatamente. É um livro que, certamente, merece
divulgação.

Abraço do tesco.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei disso, deve ser muito bom mesmo! quando estará disponível? rrs
hiscla