UMA NOITE DO CÃO

Foi anteontem. O dia já tinha sido ruim. Tive que exorcizar
um capeta: "Sai capeta! Esse intestino não te pertence!"
Sim, prisão de ventre. Não sei como nem porque, pois
raríssimas vezes sofri com esse negócio. Minha tendência
é pra diarreia. Deve ser porque sou contrário a prisões
injustificadas.
- Pai, soltou gases?
Claro, eles não fizeram nada, por que vou prendê-los?

Mas passou e o pior viria á noite.
Terminando um banho, fui apanhar um resto de sabão de
coco, que tinha caído próximo ao chão. Me abaixei, me
acocorei, mas não teve jeito, perdi o equilíbrio. Ainda tive
tempo pra decidir se cairia pra frente ou pra trás. Resolvi
cair pra trás e tive sucesso.
Parcial!

Como pensei, o atrito com a parede amorteceu o baque,
bati a cabeça na parede oposta, mas suavemente, não
doeu nada. Porém cai bem encaixado no cantinho, com
o cotovelo esquerdo na junção das paredes. Tentei me
levantar e nada consegui, meu banheiro está sem boxe
e os pés escorregavam.

Então apelei para a solução final: Chamei alguém.
Só um, mas vieram cinco (melhor muitos que poucos).
Mas as interjeições se multiplicaram:
-  Meu Deus do Céu!
- Paiiinho!
- Vixe!

Novamente em pé, me senti um pouco tonto.
Determinaram que eu estava febril (mediram 39ºC).
Mediram a pressão: 106x61.
Hein?!!! Nunca tive pressão baixa! 

Apesar disso, tudo ficaria bem se eu não tivesse caído
de novo. Foi sobre um banco de plástico, mas ocasionou
muito barulho.

Com esses dados e a pressão de todos pra me levarem
a um hospital, acabei cedendo. Já eram , pelo menos,
dez da noite.

No hospital, após um vigoroso chá de cadera de rodas
(ainda não tinha tomado desses), foi realizado raios-X do
crânio. Fui conduzido à sala de observação, pra esperar
o resultado. Dormi muito pouco ou quase nada, e o óbvio
resultado só chegou de manhã: "Tudo normal. Agora
vamos ver a tomografia o que vai mostrar".

Quê? Pra que tomografia?
Sim, eu sei que mudar o comportamento de pessoal da área
médica é um pouco mais difícil que fazer político mudar
de partido. Vamos em frente, então.

Como o equipamento do hospital estava inoperante, eu iria
fazer o exame no S. Lucas. Foi marcado para as 7:30.
Pouco depois das 8:00 estávamos a caminho do S. Lucas.
O processo foi rápido, porém não me canso de falar (só falar,
a prática é muito cansativa) contra os procedimentos
hospitalares. Já disse e repito: Tudo em função da
comodidade de médicos e atendentes. Para o paciente,
que deveria ter a prioridade, nada, nem as batatas!

Veja-se a transferência de macas, que é uma constante.
Ainda não vi um método de poupar esforço ao paciente, que,
normalmente, se acha debilitado. Este é convidado a se
transferir de uma maca pra outra, mas de costas! E quando
não se ajustou adequadamente, o atendente diz, na sua
cabeceira: - Um pouco mais pra cima.
Mas isso de costas. Ninguém rasteja de costas!
 
Devia ter, pelo menos, uma maca intermediária, entre a
originária e a final, em que o paciente pudesse se emborcar
e rastejar até uma posição adequada. Assim já desemborcaria
na outra maca na posição desejada.

De todo modo foi efetuado o exame, saí de lá por volta das
9:10. Beleza, né? Agora é só esperar o resultado.

Eis que este chega, às 16:30! 
Entenda o digníssimo leitor que este é o atendimento para
um plano de saúde que não dá calotes. Imagine o que não é
para a saúde pública ou para um plano "bichado"! 
 
Mas tudo normal, fui liberado e, às 17 horas já estava em casa,  
com direito a dormir bem. Tá tudo em paz e regularizado.
Verifico, porém, que minha alergia não se restringe somente
a UTIs, qualquer hospital já me causa um tremor insuportável.

Abraço do tesco.