Em meio a leitura de "O processo" de Franz Kafka, pensei: "Esse universo de Kafka é muito desordenado. A sociedade é conivente com todas as arbitrariedades e todos os desmandos, vigorando um estado de direito. É uma situação muito surrealista!".
Ao final do livro, porém, verifico que fiz um julgamento muito precipitado, nada há de surrealista no que ele descreve. É o nosso mundo mesmo, sem dúvida alguma, tanto no País quanto no resto do planeta.
Observe o programa televisivo BBB12, por exemplo: Sexo entre os participantes não é proibido ali, pelo contrário, é incentivado e exaltado como coisa ótima de ser mostrada nos lares de todos os telespectadores. . Pelo menos, a julgar pelas manchetes nos portais da internet. Até um suposto caso de estupro foi veiculado. Ora, estupro é caso para polícia e Medicina Legal, não caso para show televisivo.
No entanto, se acontece uma explanação técnica e bem orientada em sala de aula, levanta-se uma gritaria contra o MEC e contra os professores. Os mesmos canais de mídia que promovem as belas peripécias do BBB, são os primeiros a publicar condenações a esta "experiência escabrosa!". Entenda-se uma coisa dessas: É didático promover escândalos, mas procurar explicar científicamente as coisas da vida para as crianças e para os aolescentes, é aberração!
Mas as contradições do mundo atual não ficam somente nisso. Quisera Deus que ficassem!
Tem o episódio do Pinheirinho, em São José dos Campos, SP, em que as próprias autoridades governamentais autorizaram a destruir, queimar residências, expulsar moradores e baixar o cacete, como se estivéssemos entre Godos e Vândalos no século 4. E isso em pleno estado de direito e em tempo de paz.
Isso me faz lembrar os assentamentos de israelenses além das fronteiras estabelecidas pela ONU na fundação do Estado de Israel, tendo os habitantes das terras ocupadas o mesmo tratamento dado pelo governo paulista (não seria o caso de pagar direitos autorais pela cópia?).
As ações de Israel contrariam abertamente resoluções da ONU, mas isso não tem nenhuma importância. Agora, em se tratando de Irã, imediatamente os EUA e os EUA (sob o heterônimo de OTAN) se arvoram como os vigilantes e defensores da Humanidade, e ameaçam invasão. Como fizeram com o Iraque, falsamente acusando o país de detentor de "armas de destruição em massa", quando sabemos que estas, na verdade, são os próprios EUA.
Mas retornemos ao Brasil, pois aqui não faltam casos de injustiça e de corrupção.
Não vou falar das escandalosas privatizaçõesefetuadas no Governo Cardoso, para isso o livro "Privataria Tucana", de Amaury Ribeiro Jr., documenta as fraudes.
Nem vou falar das imorais retiradas de direitos dos trabalhadores, promovidas durante aquele Governo, macaquando Governos Neo-Liberais da Europa. que legaram o atual caos, vigente por lá.
Só lembrando um caso, que me tocou mais de perto, houve a retirada de várias categorias profissionais da lista de Aposentadoria Especial Automática, obrigando milhares de técnicos a submeterem-se a desnecessárias complicações burocráticas. Eu mesmo tive que conseguir, por ação judicial, o que, antes desse malfadado Governo, era meu direito pleno.
- Ah, tesco, isso é coisa velha! Fale de casos atuais, se tem.
Tem sim, infelizmente. Os malfeitores não cessam de nos empurrar barbaridades: Um deputado de Goiás admite que recebeu R$ 150 mil (do Governo, naturalmente) para votar contra os professores. Esta declaração, feita por ele mesmo, pode ser vista no You Tube . Não é fato antigo, tem cerca de dez dias.
Resumindo, há uma evidente contradição entre o que se visa, ao se escolher pessoas e grupos para trabalhar por nossos objetivos, e o que eles fazem, que é exatamente o contrário.
Tudo isto ocorre com uma total conivência da sociedade, com algum clamor contrário, mas sem consequência alguma e seu rápido esquecimento, pois um novo abuso, uma nova arbitrariedade se levanta ou, mais exatamente, é levantada pela mídia.
Constata-se, portanto, não que este é um mundo kafkiano, mas que Kafka descreve perfeitamente o mundo que nos cerca.
O PROCESSO de FRANZ KAFKA As obras mais citadas de Kafka são "A metamorfose" e "O processo", clássicos da literatura universal. Aqui o autor não se esmerou em aparar as arestas, e por isso muitos fragmentos restaram, passagens foram riscadas, capítulos ficaram incompletos,trechos foram suprimidos. A primeira publicação foi póstuma, em 1925. Estranho mundo o de Kafka. Talvez nem tão estranho assim... Vide post seguinte. INSCREVA-SE ASSIM Escolha apenas UM grupo, de 1 a 20, com 5 dezenas já determinadas. Exemplos: Grupo 1 = dezenas 01, 02, 03, 04 e 05. Grupo 20 = dezenas 96, 97, 98, 99 e 00. Basta indicar isto sua escolha nos comentários. O vencedor será indicado pelo sorteio da Loteria Federal , em 29/02/2012. Escolha um grupo AINDA DISPONÍVEL, ATÉ às 17 horas do dia do sorteio.
UM CÂNTICO PARA LEIBOWITZ de WALTER M. MILLER JR. Ficção-científica, mas com a parte científica restrita ao ambiente pós-hecatombe nuclear, pelo menos na primeira parte, que se passa numa época medieval. A segunda parte corresponde aproximadamente ao início do século 19, enquanto a parte final espelha nossa época ou um pouco mais além. A fantasia consiste num domínio da Igreja Católica Romana, por quase 1200 anos, praticamente sem dissidências e com o latim como língua litúrgica (livro escrito em 1954).
INSCREVA-SE ASSIM: Escolha apenas UM grupo, de 1 a 20, com 5 dezenas já determinadas. Exemplos: Grupo 1 = dezenas 01, 02, 03, 04 e 05. Grupo 20 = dezenas 96, 97, 98, 99 e 00. Basta indicar esta sua escolha nos comentários. O vencedor será indi12do pelo sorteio da Loteria Federal , em 25/02/2012. Escolha um grupo AINDA DISPONÍVEL, ATÉ às 17 horas do dia do sorteio.
VIAGEM À AURORA DO MUNDO de ÉRICO VERÍSSIMO Embora classificada como literatura infanto-juvenil, é uma ótima obra introdutória ao mundo do passado geológico, notadamente a paleontologia. O original data de 1939, mas, em linhas gerais, não houve muita modificação nessa área do conhecimento. Conta com a fluidez do estilo de Veríssimo (pai). Edição de 1980.
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Estou lendo "101 Experiências de Filosofia Cotidiana", do filósofo francês Roger Pol-Droit. É mais um livro que me enganou pelo título (são poucos mas existem). Esperava uma série de explicações filosóficas a partir de situações comuns e cotidianas, mas vejo o contrário: Parte de várias experiências incomuns, algumas forçadas, e explica muito pouco ou quase nada.
Como exemplo, a experiência de número 11, "Tentar medir a existência", é classificada, pelo autor mesmo, de efeito inútil! Quer dizer, ensina a perder tempo. Não se precisa ser filósofo pra aprender isso, né?
Mesmo assim, procuro extrair alguma coisa boa dele, uma forma de me convencer de não ter gasto meu dinheirinho em vão.
Na experiência 23 somos orientados a "Inventar manchetes". Depois de quatro parágrafos de instruções, conclui:
"O objetivo dessa experiência não é preencher um vazio. Cabe a você sentir como o fluxo de informações não cessa de se repetir, idênticas a si mesmas, sem progresso, sem novidade. A extrema facilidade com a qual é possível fabricar uma pseudo-atualidade confirma que as notícias são o que há de menos novo. Elas repetem, indefinidamente, as misérias humanas. Essa mensagem desprovida de atrativos é decorada para fingir que traz algo de inédito. Talvez, se você repetir essa experiência de tempos em tempos, poderá concluir que essas informações não têm importância, que quase não têm realidade. Será isso uma informação?"
Ora, isso se coaduna admiravelmente com o ensaio de James L. Ford, "Budismo, mitologia e Matrix", componente do livro "A pílula vermelha", (sortesco 73, maio de 2010), onde ele diz sobre o filme "Matrix": "...Há a mensagem claa de que o mundo que os humanos vivenciam é uma distorção total. É, literalmente, a transmissão de um programa de computador para a nossa mente para nos manter entretidos. Em outras palavras, ele é "vazio" de qualquer "realidade" substancial".
Confrontadas essas opiniões com a realidade que vivenciamos, então constatamos que estamos vivendo Matrix, isto é, uma pseudo-realidade criada pela mídia que nos cerca por todos os ângulos. Isso pode ser visto em qualquer portal de notícias e variedades na internet: 90% do que é noticiado é totalmente inócuo aos nossos interesses, e somente somos atraídos por força da 'decoração' citada pelo Droit.
Não só as manchetes são recicladas e adquirem novo colorido, as notícias sofrem o mesmo processo. E até os fatos são reciclados, quem já não ouviu/viu/leu sobre 'desabamento acidental de prédio', ou 'enchente catastrófica', ou 'deslizamento de terra soterrando barraco'? É tanta repetição que a nossa querida Yvonne já brincou com isso, fazendo "previsões para o novo ano por Mãe Yvonne de Oxum" e, infelizmente, não deixou de acertar, prevendo chuvas e deslizamentos mortais para o início de 2011. Felizmente ela não lançou as previsões para 2012! Risos.
Por tudo isso, reitero a recomendação de não acreditar em tudo que lê, seja no jornal ou na internet, nem mesmo no que vê na televisão, a não ser depois de comprovar. Eu ia dizer que acredite mesmo é nas informações do tesco, mas, pensando melhor, não acredite nem em mim! Rerrerré.
QUATRO HISTÓRIAS DE LADRÃO de PAULO MENDES CAMPOS Um dos maiores cronistas do Brasil, no século 20 (ao lado de Rubem Braga e Fernando Sabino compõe o trio mais citado), Campos mostra em suas crônicas, às vezes o lado dramático, às vezes o lado cômico e, muitas vezes, ambos. Esta pequena antologia nos traz 27 delas, gostei de vinte, das quais dez são excelentes.
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No livro "Crônicas de um e de outro" (sortesco 173), podemos ler interessante crônica de Hermínio Miranda, abordando um tema que era novidade naquela época (década de 70), mas que hoje é, relativamente banal: Terapia de Vidas Passadas. Ainda não ostentava esse nome, mas já surtia efeitos.
Passemos logo à leitura, que é suficientemente explicativa.
"A REENCARNAÇÃO NA PSICOTERAPIA Hermínio C. de Miranda
REPETIDAMENTE NOS referimos ao grande proveito que resultará para a prática da medicina o conhecimento aprofundado do Espiritismo. Empregamos o verbo no futuro e não no condicional, movidos pela Íntima convicção de que a abertura é, não apenas inteiramente válida, como inevitável. É uma questão de tempo. O homem de ciência acabará forçado pela evidência a admitir que somos Espíritos encarnados e não máquinas biológicas controladas por estruturas cibernéticas naturais.
A fase pós-operatória dos transplantes, por exemplo, está acarretando alguns problemas psíquicos muito curiosos que não encontram explicações fora do contexto da Doutrina Espírita. Ainda falaremos nisso noutra oportunidade. No momento, nosso interesse é mais específico por se situar na área dos próprios fenômenos espirituais ou da mente,como querem os cientistas.
Pouco antes de morrer, o nosso grande confrade Dr. Carlos Imbassahy publicou uma obra em que istudava as conexões e desajustes entre as concepções de Slgmund Freud e o Espiritismo. O livro chama-se "Freud e as Manifestações da Alma" e certamente constitui leitura interessante e esclarecedora tanto para médicos como para leigos.
É exatamente no campo dos problemas psíquicos que a Doutrina Espírita tem mais a oferecer à classe médica, es pecialmente aos psiquiatras e psicanalistas. Isso vai levar ainda algum tempo, mas os primeiros doutores que passaram ao exame do assunto já estão encontrando um filão muito rico à sua disposição.
e uma exploração desse tipo nos dá conta um livro notável intitulado "Many Lifetimes", publicado nos Estados Unidos pela "Doubleday", em novembro de 1967 e pela "Pocket Books", em 1968. É escrito peloDr. Denys Kelsey e por Joan Grant. O Dr. Kelsey é membro do "Royal College of Physicians", de Londres, e Joan, sua esposa, dotada de excelente mediunidade, colocou seus recursos psíquicos a serviço da clínica de seu mando, qualificado aliás na apresentação do livro, como "proeminente psiquiatra".
'Os resultados obtidos pelo casal ·são e.xtraordinários e muitas vezes se revelam altamente dramáticos. Por muitos anos, o Dr: Kelsey tratou os seus pacientes pelos processos clássicos. Acabou, no entanto, convencido da legitimidade da idéia da reencarnação ·e agora, quando não consegue localizar na vida presente o trauma causador do. conflito, mergulha nas existências anteriores, através da hipnose profunda, com a assistência da sensibilidade psíquica de Joan.
No capítulo intitulado "Reencarnação e Psicoterapia", o Dr. Kelsey relata dois casos para ilustrar o seu método de trabalho e oferecer suas conclusões sobre o assunto. Num deles, um jovem bem dotado de inteligência, e até com algum sucesso na sua vida profissional, estava convencido de que fora ele o causador da artrite de seu pai, quando, aos sete anos de idade, passou um' pano úmido sobre o Iençol em que depois se deitou o seu genitor. Reconhecia perfeitamente que a suposição era gratuita e írraeíonal, pois não havia relação de causa e efeito entre o que fizera e a doença de seu pai. Isso, porém, não resolvia a sua angústia.
O tratamento encetado durou 80 (oitenta!) sessões de análise, sem.resultado prático, motivo pelo qual o próprio médico propôssuspendê-lo. Ao cabo de algum tempo, o cliente pediu novamente para ver o médico. Seu pai havia morrido de enfarte e o filho se sentia culpado não apenas da artrite contraída por ele mas também da sua morte.
Com o consentimento do cliente, o Dr. Kelsey resolveu explorar o passado remoto, buscando nas vidas anteriores a origem do problema. Joan Grant participou do trabalho, como habitualmente. O paciente era um bom "sujet" para a hipnose e em poucos minutos começou a descrever as imagens que lhe ocorriam à memória visual.
Para encurtar a história: o doente havia sido uma mulher na existência anterior e tentara provocar a morte de uma tia velha, muito doente e rica (que lhe deixaria todo o dinheiro), umedecendo-lhe os lençóis nos quais a senhora se deitaria. Surpreendendo-a na sua clara intenção, a velha teve um distúrbio circulatório e por muito anos mais a moça viveu cuidando dela, sob a tensão de ver revelada a sua tentativa criminosa. O trauma foi demais para uma só vida e transbordou para a seguinte.
O Dr. Kelsey informa que a cura se deu numa única sessão e não mais voltaram os sintomas da doença.
Os espíritas continuam; pois, a aguardar, em grande expectativa, o interesse dos homens de ciência. Sendo uma doutrina que estuda as manifestações do Espírito, tem um contingente inestimável de conhecimento e de experiência a oferecer às ciências que cuidam da mente. Só está faltando, por ora, um pouco de humildade intelectual, em certas áreas científicas, para examinar com espírito crítico, mas descontraído, a contribuição espírita aos problemas médicos".
Temos aqui a resolução de um caso psíquico recorrendo-se à teoria da reencarnação. Os que (ainda) não aceitam essa teoria procurarão outros sistemas que sejam 'mais plausíveis' para eles. Tudo bem, não se é obrigado a seguir no mesmo passo dos outros.
Porém, os que reconhecem na reencarnação a explicação racional dos nossos inúmertos problemas, podem notar aqui, a beleza, simplicidade e justiça do mecanismo: Não existe nenhum severo juiz condenando, nem nenhum obediente carrasco executando as penas impostas, a não ser A PRÓPRIA CONSCIÊNCIA!
"O trauma foi demais para uma só vida e transbordou para a seguinte". Observem que maravilha de lógica e simplicidade. Quantos e quantos dos nossos problemas (quase a totalidade) não seguem essa regra? É como na escola, quando o professor diz: - Bem, hoje não temos mais tempo, amanhã continuaremos o assunto. Ou o agricultor ao fim do dia: - É, pra hoje tá bão, já vai escureceno. Menhã eu tremino!
A própria Natureza nos dá o exemplo constantemente: Todos os processos decorrem de maneira gradual e, normalmente, lenta. Quando vemos um fenômeno surgir repentinamente e de maneira ab-rupta, é apenas a fase final de um processo longamente amadurecido.
Do mesmo modo, não podemos exigir que todos compeendam essa doutrina reencarnatória agora, já, de uma vez! Tempo, tempo, tempo, tempo, para isso tu existes;
MAIAKÓVSKI, VIDA E POESIA Antologia Editora Martin Claret "Poeta russo" para brasileiro é sinônimo de Maiakóvski, se existem outros, se há melhores, não importa, aliás, nem os conhecemos. Também era dramaturgo e cineasta mas, praticamente, só vemos o poeta. Sua poesia, mesmo a engajada - ele foi revolucionário de 1917 - é sempre surpreendente. Afinal "morrer de vodka é melhor do que de tédio".
INSCREVA-SE ASSIM Escolha apenas UM grupo, de 1 a 20, com 5 dezenas já determinadas. Exemplos: Grupo 1 = dezenas 01, 02, 03, 04 e 05. Grupo 20 = dezenas 96, 97, 98, 99 e 00. Basta indicar esta sua escolha nos comentários. O vencedor será indicado pelo sorteio da Loteria Federal , em 08/02/2012. Escolha um grupo AINDA DISPONÍVEL, ATÉ às 17 horas do dia do sorteio.
Ainda na antologia de Leandro Gomes de Barros (veja sortesco aí embaixo), colhemos essa interessante sucessão de preciosidades, no cordel "O casamento hoje em dias".
Observem como, a partir da 17ª estrofe (Um sábio disse uma vez...), o poeta exalta a mulher (até a 19ª), para, em seguida, aplicar-lhe uma bela rasteira, com um desfecho hilariante.
O CASAMENTO HOJE EM DIAS Leandro Gomes de Barros
Quem casa n'um tempo d'este Perdeu de tudo a razão Urna mulher em 6 mezes, Val dez annos de prisão Agora as de onze e dõze Com treze annos e quatorze? Que faz esse desgraçado? Olha para o céo exclama Meu Deus! Nasci n'uma cama Para morrêr n'um roçado. Eu pensei que o casamento Fosse uma parte do gózo Mas, o que, elle faz parte É de um xarope arnargoso. Arde mais do que pimenta É como o sol quando esquenta. O homem perde a façanha, Faça elle o que quiser Porque a mão da mulher Em vez de allisar arranha. A mulher é um volume Que tem um pêso infinito Com carne de dois-mil reis Feijão a crusado o litro Farinha a mil e trezentos Toucinho dois mil e duzentos E esse só tem o couro Ainda diz a mulher Compre pelo que estiver Não faça cara de choro. Cinco litros de farinha Do Recife ou Afógados Se a pessõa for medir, Talvez dão dê dez punhados, Quiabo um, um vintem E todo o dia não tem, Lenha dois vinténs a lasca Bananna hoje é um brinco Se der um tustão por cinco Só se encontra n'ella a casca Assucar sete tustões E por kilo enferrujado Alguns pingam mel de furo Quando vem pouco molhado Moleque atraz do balcão Cada qual que meta a mão Tira em grande quantidade, Chegam a formarem até bulha Depois que o cacheiro embrulha Já falta mais da metade. O solteiro não se assusta Isso faz medo ao casado Que tem por obrigação Ir a feira ou ao mercado Que pega a sexta ou o saco E olha para o buraco Onde elle precipitou-se Volta, acha a mulher zangada Pergunta-lhe a filharada Papae, me trouxe pão doce? Se o camaradinha disser Meu filho, um X não voltou A mulher pergunta logo O que fez do que levou? Tudo não está caro assim Não sobrou foi para mim Que o que como é subeijo Eu não sei mais o que faça Agora, por mais desgraça Estou de antojos tenho desejo. Estou desejando comer Queijo fino e goiabada, Tomar cidra e vinho do Porto, Passa, figo e marmelada, Ah! Quem me dera um presunto Havia de comer muito Acabaria o fastio Isso é para uma nobre Casei com um homem pobre Além de pobre, vadio. Veja um leitor se uma d'essas Deseja coisa ruim Pedra, pão, bagaço e lama, Uma casa de cupim? Só deseja coisas caras, Embora que sejam raras, Isso não ofende a ella. O burro velho demente Espera alli paciente Para botarem-lhe a sella. Para os tempos de abundancia Casamento é um pagode Porque com mil e quinhentos Compra-se a banda deum bode Farinha a cuia um crusado Capâo bonito e sevado Com trez mil reis compram dois Manteiga compra uma lata Compra um tustão de batata E cinco tustoes de arroz Hoje que um quarto de bode, Menor que aza de um grilo Tem custado em qualquer feira Mil e duzentos o kilo Vêr-se a farinha de roça Preta, crua, azeda e groça Corn inhaca de cupim, E como um rapaz solteiro Sem emprego e sem dinheiro Se atreve a casar assim ? Inda que o camaradinha Não tenha mãe nem irmã Quando esta casando pença O que se come amanhã ? Meu sogro não tem dinheiro Queira Deus o marinheiro Queira me vender fiado, Se a sogra. me visitar i'!âo encontra o que jantar Faz um bafafar damnado! Porém esses que se casam Depois que pegou a guerra, Só para empregado publico Ou gente que come terra, Não acha em que trabalhar Não tendo onde se empregar Nimguem lhe vende fiado A mulher diz eu estou nua, Não posso sahir na rua Meu vestido está rasgado. Eu perguntei a um theologo Homem muito scientifico Se podia se encontrar Mulher de genío pacifico Elle me disse se encontra, É diíilculdade monstra Mas que o prestigio na droga É mesmo uma raridade Com especialidade, N'uma freira ou n'uma sogra
Acrescentou o theologo Entre espinhos nascem rosas De dez mil mulheres feia Tira-se cinco formosas Como isso assim é tudo Sai de um casal carrancudo Um filho alegre e risão Eu ainda não poude ver, Foi uma sogra dizer Que um genro tenha razão.
Mas mestre - perguntei eu - Terá. mulher .paciente ? . Disse elle qualquer uma, Estando na calma é prudente, Porém quando està irada A lingua fica afiada Deita espuma pela boca Desconhece a divindade Comete temeridade, Como que estivesse louca.
Um sábio disse uma vez: Sou defensor da mulher, Vejo no céu dos seus olhos O que não vejo em qualquer. E sem ella nada havia, Nem no espaço se via Os horizontes azuis. O mundo não tinha cores, Seria um campo sem flores, Ou uma igreja sem luz.
Eu classifico a mulher Como a flor da existência, O altar de divindade, O símbolo da innocencia Pois vejo que esse obejecto Foi o grande predileto, Do autor da criação. Deus se esmerou tanto n'ella Que a fez a obra mais bella Entre toda a geração.
Como a luz planta na treva O louro clarão garboso, A mulher planta o praser Num coração pressuroso. Como a rosa no sereno Ella com carinho ameno Faz abrir um coração. D'ella se extrai o praser, Tudo tem que lhe render O culto de adoração. Embora que muitas d'ellas Tornem-se um céu de torpesa, Um armazém de ciúme, Fabricação de despesa. Há n'ellas uma excepção: Algumas tem propenção Não comer e ajuntar. Um dia até sucedeu De uma o marido morreu E ella o quiz guardar.
(Antologia Leandro Gomes de Barros, UFPB, 1977, págs 171-180)
ANTOLOGIA DE LEANDRO GOMES DE BARROS Editado pelo convênio da UFPB e Fundação Casa de Rui Barbosa, em 1977, esta obra reúne doze folhetos da literatura de cordel do Leandro, um dos pioneiros nesse setor. Os folhetos de Leandro começaram a circular em fins do século 19 e continuaram nas primeiras décadas do século 20. Com métrica e rima bem cuidadas, refletem as circuntâncias da época, mas peças de características perenes não são incomuns.
INSCREVA-SE ASSIM: Escolha apenas UM grupo, de 1 a 20, com 5 dezenas já determinadas. Exemplos: Grupo 1 = dezenas 01, 02, 03, 04 e 05. Grupo 20 = dezenas 96, 97, 98, 99 e 00. Basta indicar esta sua escolha nos comentários. O vencedor será indicado pelo sorteio da Loteria Federal , em 04/02/2012. Escolha um grupo AINDA DISPONÍVEL, ATÉ às 17 horas do dia do sorteio.
3. Se a dezena do 5º prêmio não tiver sido escolhida, será vencedor quem tiver escolhido a dezena imediatamente superior ou, na falta deste, a imediatamente inferior e assim, sucessivamente, até haver um vencedor.
4. Serão aceitas as inscrições de leitores que publiquem e-mail válido ou home-page, ou já sejam conhecidos do responsável pelo blog.
5. O vencedor enviará endereço (no Brasil) para recebimento do brinde, em e-mail para nossa caixa postal: gtesco@gmail.com
6. Casos omissos serão decididos pelo responsável pelo blog.